sábado, 31 de março de 2007

London, London

Londres é dessas cidades mágicas e inspiradoras onde tudo parece possível. Apesar do clima frio de céu cinzento, tristonho e de ter alguns dos habitantes mais tristes desse mundo (do you remember Tiago?) é tema de algumas de minhas obras favoritas. Uma delas descoberta a pouco tempo, ocupa o campo musical na minha tríade sagrada.
Penúltimo disco do Wings[1], "London Town" foi lançado originalmente em março de 1978. Naquele momento a banda voltava a ser novamente um trio. Depois de varias formações e da recente saída dos integrantes Jimmy McCulloch e Joe English no meio das gravações do álbum, a banda mais uma vez era composta apenas por Paul e Linda McCartney + Denny Laine[2].

A música título do álbum é uma bela homenagem a Londres:

Walking down the sidewalk
on a purple afternoon
I was accosted by a barker
playing a simple tune
Upon his flute...

Não sei dizer o que acontece, mas toda vez que está tocando no som, repito umas 10 vezes! De melodia fácil, cola rápido no ouvido. É impressionante. Sem dúvida é a música que mais escutei do velho Macca, que já está com 64 anos. Quem diria hein? Como é mesmo a letra de "When I'm Sixty Four" do Sgt. Pepper?
Children Children, assim como London Town é composição de Denny Laine em parceria com Macca. É uma baladinha country bem suave com letra lúdica. Mas a melhor é Deliver Your Children, aqueles violões no início anunciam uma estória interessante sobre um cara humilde e justo, mas oprimido pelo sistema. A mensagem no refrão é bem interessante e devia acontecer de fato num país como a Inglaterra:

Deliver your children
to the good good life

Give'em peace and shelter
and a fork and knife

Shine a light in the morning
and a light at night

And if a thing goes wrong
you'd better make it right


Por lá as crianças costumam ter péssimos hábitos e foram classificadas como as mais problemáticas e depressivas da Europa em pesquisa recente. O refrão hypnótico dá vontade de cantar junto sempre, é a canção mais forte do álbum.
Nos estúdios da EMI em Londres, Paul tem um insight e decide ir para um lugar ensolarado como havia feito durante as gravações de "Band on the Run"[3].
Depois de locar três iates para velejar pelas Ilhas Virgens Britânicas, monta um estúdio em um deles o "Fair Carol". A idéia deu certo, as canções que lá foram gravadas estão entre as melhores do albúm. Abaixo algumas delas:
  • Cafe on the Left Bank - letra inspirada na primeira viagem dos Beatles pela França em 1964. Rock de primeira com ritmo gostoso e guitarras numa levada pop. Ótima percussão de Denny Laine.
  • I'm Carrying - Baladinha dedilhada no violão sobre base de teclado e de violino ocasional tocado por Paul
  • With a Little Luck - Hit do albúm, a música estourou na França. No disco aparece uma versão diferente da que foi registrada no single (DJ edit). É um pouco mais longa na parte instrumental final.
  • Famous Groups - Das canções gravadas no "Fair Carol" essa é minha favorita. Marcada de forma espetacular no baixo de Paul, tem muita percussão, guitarra, violão e backing vocals que vão pedindo gradativamente para aumentar o som, para botar a casa abaixo no final com aqueles pássaros fazendo algazarra! É uma espécie de ode as Groups, vide o filme "Quase Famosos" para entender o real sentido de uma verdadeira group.
  • Don't Let Bring you Down - Aqui Paul e Denny usam um instrumento de sopro parente da flauta chamado "Flageolet", o resultado é muito bom. Os backing vocals aqui roubam a cena!
  • Moorse Moose and the Grey Goose - Encerra o disco com vocal rasgado e muitos efeitos inusitados, bateria com sonoridade bem "disco" e barulhinhos vindos direto de um submarino no fundo do mar! Can you Receive me Macca?
[1] Banda que Paul MacCartney formou depois de seus dois primeiros discos solo ("McCartney", abril de 1970 e "Ram", maio 1971) logo após anunciar o fim dos Beatles.
[2] Ex líder da banda inglesa The Moody Blues.
[3] Outro albúm do Wings, esse lançado em novembro 1973.

quarta-feira, 28 de março de 2007

"Quando se ama o abismo, é preciso ter asas"

Quando o amor é pássaro
ou anjo

Que voa lentamente
Tão distante
Parecendo estar encoberto
Pela barreira invisível do impossível

Eis que se configura

Lentamente no horizonte
O momento no qual
O destino
Conspirando com o acaso
Decidem tirar-lhe
As asas

Tornando-
o
Durante e depois
De tal momento
Parte...
de todas as partes de nós dois.





"Asas do desejo na cidade dos anjos"

Bíblia e Shakespeare ganham versões em mangá na Grã-Bretanha

LONDRES (Reuters), 27 de março - A febre crescente na Grã-Bretanha dos mangás, histórias em quadrinhos de estilo japonês, está inspirando algumas editoras a produzir versões em mangá de peças de William Shakespeare e até mesmo da Bíblia.

Artistas britânicos estão se aventurando a recriar os quadrinhos tradicionais japoneses, e a demanda por cópias em inglês de mangás japoneses, como "Fruit Basket" e "Astro Boy", vem aumentando vertiginosamente.

"O cenário dos mangás no Reino Unido está em ascensão", disse o artista de quadrinhos John Aggs, que no início de março venceu um importante concurso de desenho de mangás na Grã-Bretanha e Irlanda organizado pela editora de mangás Tokyopop.

"É o exotismo dos mangás. O Japão fica muito longe, é moderno, tem muitas luzes de néon e atrai as pessoas", disse Aggas, vencedor do concurso "Estrelas Ascendentes do Mangá".

No Japão, a arte satírica data dos tempos medievais. Mas a palavra mangá, que significa literalmente "desenho extravagante", costuma ser vinculada ao xilogravurista japonês do século XIX Katsushita Hokusai, que a usou para descrever seu trabalho.

O mangá ganhou seu significado moderno, que descreve todo um gênero de arte animada japonesa, no início do século XX, quando artistas japoneses sofreram a influência de histórias em quadrinhos políticas importadas dos EUA e da Grã-Bretanha.

O estilo começou a fazer sucesso real após a II Guerra Mundial, graças ao trabalho de Osamu Tezuka, também conhecido como "o deus do mangá", que criou personagens ícones como "Astro Boy".

A popularidade do mangá vem inspirando editoras a empregar o gênero para alcançar um público novo. David Moloney, diretor editorial de livros cristãos da editora Hodder & Stoughton, decidiu lançar a primeira versão da Bíblia em mangá, em inglês.

O ilustrador Siku, de Londres, conhecido por desenhar o personagem Judge Dredd na HQ britânica "2000 AD", foi contratado para fazer a arte.

Ele criou o "Novo Testamento" em mangá, que foi publicado em fevereiro na Grã-Bretanha, e está desenhando uma Bíblia inteira em mangá, com lançamento previsto para julho. A editora Doubleday pretende lançar a Bíblia em mangá nos EUA em 2008.

Shakespeare também vai ganhar versões em mangá.

"O mangá é a mídia perfeita, porque é dramática e visual", disse Emma Hayler, diretora da editora Metro Media, que criou o conceito de peças de Shakespeare em mangá dois anos atrás.

Versões de "Romeu e Julieta" e "Hamlet" em mangá foram lançadas na Grã-Bretanha no dia 10 de março. De acordo com Hayley, elas também serão publicadas nos EUA e no Japão. As próximas obras de Shakespeare a saírem em mangá serão "A Tempestade", "Ricardo III" e "Sonho de Uma Noite de Verão". O objetivo da editora é publicar todas as peças de Shakespeare em mangá.

Por Deborah Haynes

sábado, 24 de março de 2007

Tempos Modernos

Os humanos se tornaram uma grotesca boca faminta a se alimentar desesperadamente do planeta que habitam. Por quanto tempo?


Nos dias de hoje a modernidade promove uma relação íntima do indivíduo com o egoísmo e a auto-realização, como formas disfarçadas de felicidade e sucesso.

Deus deve estar desabafando em sessões contínuas de análise: -Ai meu Deus! Eu criei isso? Tem certeza?

O gado vai se alimentando de subcultura, onde escuta bastante barulho e ainda come carne vendo o sangue escorrer pela TV.

Penso que vivemos em tempos onde o tempo não dá tempo para pensar!?

La Question

JE NE SAIS PAS QUI TU PEUX ÊTRE
JE NE SAIS PAS QUI TU ESPÈRES
JE CHERCHE TOUJOURS À TE CONNAÎTRE
ET TON SILENCE TROUBLE MON SILENCE

JE NE SAIS PAS D'OÙ VIENT LE MENSONGE
EST-CE DE TA VOIX QUI SE TAIT
LES MONDES OÙ MALGRÉ MOI JE PLONGE
SONT COMME UN TUNNEL QUI M'EFFRAIE

DE TA DISTANCE À LA MIENNE
ON
SE PERD BIEN TROP SOUVENT
ET CHERCHER À TE COMPRENDRE
C'EST COURIR APRÈS LE VENT

JE NE SAIS PAS POURQUOI JE RESTE
DANS UNE MER OÙ JE ME NOIE
JE NE SAIS PAS POURQUOI JE RESTE
DANS UN AIR QUI M'ÉTOUFFERA

TU ES LE SANG DE MA BLESSURE
TU ES LE FEU DE MA BRÛLURE
TU ES MA QUESTION SANS RÉPONSE
MON CRI MUET ET MON SILENCE.


Françoise Hardy

Flower on the Dirt

Talvez seja verdade o curioso fato de se colher uma bela flor em meio ao lixo. Oscar Wilde (Dublin 1854 – Paris 1900) coloca toda sua essência numa fina flor chamada “De Profundis”, longa epístola que escreveu no período em que esteve recluso em mais de um cárcere, entre o eles o de Reading[1].

O texto é tão belo quanto às rosas que Wilde usava para adornar a lapela de seus luxuriantes ternos, na época em que costumava freqüentar lugares badalados como o restaurante Royal na Inglaterra Vitoriana. A obra nasceu não só para explicar a conduta extravagante do autor nos anos que antecederam sua prisão, mas também para mostrar um elegante desfile de idéias que surgiram da mais profunda dor, vergonha e humilhações pelas quais passou durante a época do cárcere. Além da grande carta direcionada a Bosie, jovem aristocrata principal motivo de sua ruína, o volume[2] ainda acompanha duas outras cartas muito interessantes, escritas após sua saída da prisão. As cartas eram direcionadas ao editor do Jornal Daily Chronicle, com conteúdo crítico sobre o sistema carcerário da época.

“De Profundis” foi escrita com maestria, pois Oscar só tinha permissão para escrever em apenas uma folha de papel por dia, a qual era recolhida assim que era totalmente preenchida. Todo o material ficava em poder da prisão e Wilde só pode ter acesso ao mesmo depois de ficar livre. Dessa forma não chegou a acompanhar nem revisar o andamento de seu texto. Wilde não quis ler o conjunto final, pois assim que saiu da prisão e recebeu os escritos encontrou-se com seu fiel amigo Robert Ross e lhe passou a tarefa de administrar toda sua obra e encaminhar a carta ao destinatário.

A primeira edição completa[3] de “De Profundis”, foi publicada pela primeira vez por Vyvyian Holland[4], filho de Wilde em junho de 1949. Esta foi a última obra em prosa escrita por Oscar Wilde que nos brindou com uma carreira brilhante que sempre primou pela beleza, perfeito encaixe e melodia de cada palavra deitada em papel por ele.


Outubro de 2002.

Revisão final em: 25/05/2006.



[1] Prisão Inglesa que inspirou um de seus mais célebres poemas: A Balada do Cárcere de Reading.

[2] Esta edição disponibilizada no Brasil pela LP&M Coleção Pocket.

[3] Devido a contratempos com Lord Alfred, que queria total poder sobre a carta.

[4] Entre outras humilhações, Wilde teve seu sobrenome extirpado dos nomes de seus filhos.