sábado, 24 de março de 2007

Flower on the Dirt

Talvez seja verdade o curioso fato de se colher uma bela flor em meio ao lixo. Oscar Wilde (Dublin 1854 – Paris 1900) coloca toda sua essência numa fina flor chamada “De Profundis”, longa epístola que escreveu no período em que esteve recluso em mais de um cárcere, entre o eles o de Reading[1].

O texto é tão belo quanto às rosas que Wilde usava para adornar a lapela de seus luxuriantes ternos, na época em que costumava freqüentar lugares badalados como o restaurante Royal na Inglaterra Vitoriana. A obra nasceu não só para explicar a conduta extravagante do autor nos anos que antecederam sua prisão, mas também para mostrar um elegante desfile de idéias que surgiram da mais profunda dor, vergonha e humilhações pelas quais passou durante a época do cárcere. Além da grande carta direcionada a Bosie, jovem aristocrata principal motivo de sua ruína, o volume[2] ainda acompanha duas outras cartas muito interessantes, escritas após sua saída da prisão. As cartas eram direcionadas ao editor do Jornal Daily Chronicle, com conteúdo crítico sobre o sistema carcerário da época.

“De Profundis” foi escrita com maestria, pois Oscar só tinha permissão para escrever em apenas uma folha de papel por dia, a qual era recolhida assim que era totalmente preenchida. Todo o material ficava em poder da prisão e Wilde só pode ter acesso ao mesmo depois de ficar livre. Dessa forma não chegou a acompanhar nem revisar o andamento de seu texto. Wilde não quis ler o conjunto final, pois assim que saiu da prisão e recebeu os escritos encontrou-se com seu fiel amigo Robert Ross e lhe passou a tarefa de administrar toda sua obra e encaminhar a carta ao destinatário.

A primeira edição completa[3] de “De Profundis”, foi publicada pela primeira vez por Vyvyian Holland[4], filho de Wilde em junho de 1949. Esta foi a última obra em prosa escrita por Oscar Wilde que nos brindou com uma carreira brilhante que sempre primou pela beleza, perfeito encaixe e melodia de cada palavra deitada em papel por ele.


Outubro de 2002.

Revisão final em: 25/05/2006.



[1] Prisão Inglesa que inspirou um de seus mais célebres poemas: A Balada do Cárcere de Reading.

[2] Esta edição disponibilizada no Brasil pela LP&M Coleção Pocket.

[3] Devido a contratempos com Lord Alfred, que queria total poder sobre a carta.

[4] Entre outras humilhações, Wilde teve seu sobrenome extirpado dos nomes de seus filhos.

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