quinta-feira, 29 de maio de 2008

Bondelanche

Em uma de suas aulas de Língua Inglesa IV, o grande professor Michael trouxe-nos um nova palavra, interessantíssima, que não era originária do inglês, mas do Persa.

Descobri que "Serendipity" é uma palavra derivada de um antiquíssimo conto Persa e o "primeiro" uso escrito dessa palavra foi feito por Horace Walpole em 28 de Janeiro de 1754 numa carta ao amigo Horace Mann (depois falo sobre esse conto).

Serendipity também é o nome de um filme lançado em 2001, dirigido por Peter Chelsom, com John Cusack e Kate Beckinsale no elenco. Não vi, mas fica a dica.

A tal palava significa, de certa forma, um momento na vida. Aquele momento no qual uma pessoa encontra algo inesperado ou acontece alguma coisa inesperada, que, apesar de rolar assim, de repente, o tal momento se torna algo agradável.

Michael nos deu um exemplo bem "serendipytizeiro"... Ele adora bondes, bondes de todos os tipos. Num belo dia na praia do Seixas, sim, isso mesmo (se não me engano, segundo a foto "prova do serendipity", o alvo estava naquela área que tem uma espécie de estacionamento, vizinho a um grande bar) encontrava-se
estacionado um tal de "Bondelanche", o nome já diz tudo não? É isso que estais a pensar leitor, um bonde tipo Kombi que serve salgados, hambúrguer e outros gordurames afins.

Poderia ser um OVNI, um ET ou equivalente, que não causaria tanta surpresa ao nosso grande professor, devido ao fascínio que os habitantes de sua terra natal (EUA) nutrem pelos chamados "pratos que voam" por lá. (É só lembrar de filmes de Spielber e tantos outros relatos sobre E.Ts, Area 66, X-files etc.)

O Bondelanche era sim, um bonde original (que foi adaptado... É claro). E um dos favoritos de Mr. Michael, daqueles que circulavam na sua saudosa Kansas City, Kansas. Durante o Serendipity "carregado", tirou fotos, mas se bem me lembro, infelizmente não descobriu como aquele Bonde veio parar aqui. Depois ficou sabendo que o tal bonde, um bonde chamado bondelanche, foi parar no Valentina Figueiredo (aquele bairro logo depois de Mangabeira) e nunca mais foi visto.

Estive pensando... Será que o bondelanche se transformou naquele bonde bem novinho, exposto lá na Usina Cultural, na Epitácio Pessoa? Mistério dos Serendipitys.

Ops, ia narrar um que aconteceu comigo, e acabei viajando no Bondelanche. Fica para um próximo post.

Serendipity para todos.

(Revisão em: 08/06/2010)

sábado, 29 de março de 2008

Berserk

“Aquele que segue a alguém, não segue a ninguém, ele nada encontra, porque, na verdade, nada busca”.
(Montaigne - Ensaios)


Podemos encontrar nas palavras de Montaigne a premissa de Berserk, anime[1] baseado no mangá[2] homônimo de Kentaro Miura. A série de 25 capítulos faz apenas um recorte da estória que continua a ser publicada nos quadrinhos monocromáticos japoneses, lidos por aqui em ordem inversa[3].
A série foi exibida pela primeira vez em 1997, década na qual os animes evoluíram bastante em vários aspectos, Evangelion e Cowboy Bebop são ótimos exemplos disso.
Com um roteiro interessante e ambientação medieval, Berserk nos apresenta já no primeiro episódio informações valiosas para a compreensão de toda a série, que será apresentada em flashback nos episódios seguintes.
No centro da narrativa encontram-se três personagens: Gatts, um homem perturbado por suas lembranças, que tenta através de sua gigantesca espada exorcizar todo o mal proveniente de suas escolhas, ou na maioria das vezes, a falta delas. Seu caminho se cruza com o de Griffith, espécie de Talented Mr. Ripley em pleno medievo. Rapaz de rara beleza, que esconde assim como Dorian Gray um passado completamente amoral. Representa o Homem na busca da realização de seu sonho, custe o que custar. É exímio com a espada, e consegue se sobressair da maioria das situações de forma espetacular. Seu codinome poderia ser perfeitamente “ambição”. Entre eles está Caska, que vive sob a sombra gerada pelas asas do sonhador Griffith e seu Bando do Falcão.
Ela é entre os guerreiros do grupo a mais forte. Seus almejos serão perturbados pela inesperada entrada de Gatts. O calor que emana desse trio aquecerá toda a série. Não há economia nas imagens com sangue jorrando, banhando corpos e espadas, servindo alegoricamente como “argamassa e tijolo” para a construção da escada que levará Griffith ao designo almejado.
Somente Gatts poderá colocar em risco o ousado projeto. Gatts é o avesso de Griffith e os contrastes entre ambos acabam sugerindo um enlace, numa busca insana por se completarem.
Ao dominar completamente alguém com tanto poder e tantas diferenças, o líder do grupo falcão parece encontrar algo que foi deixado no caminho que seguiu guiado pelo seu insano sonho. Esse sentimento é tão intenso e primal, que contagiará todos os membros do grupo, e em seguida Caska, que se vê inicialmente ameaçada pelo fascínio que o tal guerreiro misterioso exerce sobre o homem que ela mais admira.
Por ser totalmente desprovido de moral, manipulador, oportunista e exercer fascinante mistério, Griffith manterá Gatts (num primeiro momento) sob seu total domínio.
A espada é o símbolo do estado militar e de sua virtude, a bravura, bem como de sua função, o poderio. O poderio tem um duplo aspecto: o destruidor, embora essa destruição possa aplicar-se contra a injustiça, a maleficência e a ignorância e, por causa disso, tornar-se positiva; e o construtor, pois estabelece e mantém a paz e a justiça, sendo força e poder, entre outros sentimentos que costumam emular prazer, manifestação mais pura de nossos instintos primais.
Há ainda o exercício da força sem a razão. Imposição sem condução. Domínio sem conciliação. Poder sem fraternidade. O tinir de ferros sem filosofia.
Gatts é a materialização disso. Corpulento e cheio de cicatrizes de suas batalhas, tanto internas quanto externas. Rude e arredio manipula com destreza sua grande espada – pesada e incrivelmente sedenta. O Ripley medieval é o perfeito oposto disso. Ele é esguio, possuidor de beleza pálida, pele fina e delicada compondo uma figura andrógina. Maneja uma espada leve e é paciente com o grupo, além de ser demagogo. Seus interesses são claros, no que se referem todas as coisas que andem de mãos dadas a conjurar com o signo sob o qual está o poder, custe o que custar. Seu destino estará para sempre entrelaçado ao de Gatts após um certo eclipse... Depois dos primeiros episódios a série adquire fluxo sangüíneo, em todos os sentidos. Imperdível.

Obrigado Leo!



[1] Costuma-se chamar de Anime, desenhos animados de produção japonesa, muito popular em vários países, inclusive no Brasil. Um dos primeiros sucessos em anime, " Astro Boy" está sendo atualmente publicado em mangá por aqui.
[2] É o gibi japonês. São vendidos aos milhares, sempre em papel jornal.
[3] Isso mesmo. - Hei! Não comece pelo final, os editores advertem no que seria a primeira página das histórias em quadrinhos no resto do mundo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Verbo Irlandês (extended version)

volta e meia
estou eu a passear
por idéias de irlandeses

no caminho da poesia
encontro num canto
o conto e no outro
um romance

sangue irlandês
coração de inglês

corre e pulsa
pulsa e corre

entre as páginas
que meus famintos olhos percorre

inspiração me carrega
de aspiração e então
mergulho nestas tão
gloriosas e aclamadas letras

quem me dera
poder contemplar
a rosa do mundo
em sua plenitude
e caminhar por entre
suas encruzilhadas

no ruflar das asas de cisne
marteladas no coração

coração este
transmutado em Behelit
diante do retrato atrás do biombo no sótão

enquanto Salomé
em sua eterna dança (nas chamas)
tenta inutilmente
acordar os mortos (que jazem)
sob os tetos de Dublin.

Jeff.

sexta-feira, 7 de março de 2008

02

tens papel
tens pena
tens tinteiro
peço-te,
não prive-me
do divino dom

Quero ver-te escrever
em minha vida e fazer
parte de verdade
de minha existência
pois tu anima minha alma

se todo poema
é, em verdade, uma petição
rogo aos deuses
tua cálida persona
pois tu anima minha alma

mas quando os deuses
querem nos castigar
prontamente atendem
nossas preces

não os culpo, eles nos invejam
desejam nossos desejos
e tu anima minha alma

não, não há como ficar alheio
ao calor que irradia da alegria
e da beleza que habitam teu ser
pois tu anima minha alma

vem, vem depressa registrar
com teu corpo
o que tanto almejo
Que escrevas em meu corpo
pois tu anima minha alma

j.c.o.
quarta-feira, 4 de outubro de 2006.
revisão: hoje!