quinta-feira, 1 de julho de 2010

Confabulando o fabular, Vol.5


Jean de La Fontaine (1621-1695) tinha formação em Direito e Teologia, mas sua verdadeira paixão sempre foi a literatura. Apesar de ser mais conhecido como fabulista, também escreveu versos e publicou um romance: Os Amores de Psique e Cupido. Mesmo sem conhecer esse romance, o título me remeteu ao belo mito de Psique e Cupido, que pode ser lido no link do ótimo site Olimpo e Tróia que está na imagem abaixo:

Apesar de não trazer temas novos, suas fábulas requintavam com típica ironia e humor (recorrentes nas letras francesas de seu tempo) as fábulas atribuídas a Esopo e mais tarde lapidadas por Fedro, ambos já comentados por aqui. La Fontaine fazia parte da fabulosa corte do rei Luis XIV. Foi contemporâneo de Molière, Racine e Boileau, com quem formou o "Quarteto da Rue du Vieux Colombier". (Que nome pomposo!)Em sua primeira coletânea de fábulas escreveu no prefácio:

"Sirvo-me de animais para instruir os homens."

Faleceu aos 73 anos, sendo considerado o "pai" da fábula moderna.

A Raposa e a Cegonha

A Raposa convidou a Cegonha para jantar e lhe serviu sopa em um prato raso.
-Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava o líquido sem sucesso.
- Como posso gostar? - A Cegonha respondeu. vendo a Raposa lamber a sopa que lhe pareceu deliciosa. Dias depois foi a vez da cegonha convidar a Raposa para comer na beira da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima.
- Hummmm, deliciosa! - Exclamou a Cegonha, enfiando o comprido bico pelo gargalo - Você não acha?
A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado.
MORAL: às vezes recebemos na mesma moeda por tudo aquilo que fazemos.


Versão atribuída a Esopo:

A Raposa e a Cegonha

A raposa e a cegonha mantinham boas relações e pareciam ser amigas sinceras. Certo dia, a raposa convidou a cegonha para jantar e, por brincadeira, botou na mesa apenas um prato raso contendo um pouco de sopa. Para ela, foi tudo muito fácil, mas a cegonha pode apenas molhar a ponta do bico e saiu dali com muita fome.

- Sinto muito, disse a raposa, parece que você não gostou da sopa.
- Não pense nisso, respondeu a cegonha. Espero que, em retribuição a esta visita, você venha em breve jantar comigo.

No dia seguinte, a raposa foi pagar a visita. Quando sentaram à mesa, o que havia para o jantar estava contido num jarro alto, de pescoço comprido e boca estreita, no qual a raposa não podia introduzir o focinho. Tudo o que ela conseguiu foi lamber a parte externa do jarro.

- Não pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim você sente no próprio estômago o que senti ontem.

(Quem com ferro fere, com ferro será ferido)

Faroleando o fabular:
Quem nunca se sentiu cegonha, ou não encarnou uma raposa? Mesmo sem querer, pois "As piores desgraças são feitas com as melhores intenções" (O. Wilde)

Fontes:
CRISTIANE MADANÊLO DE OLIVEIRA. "LA FONTAINE (1621-1695)" [online]
Disponível na internet via WWW URL: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/lafontaine/lafontaine.htm
Capturado em 1/7/2010

http://aguerradetroia.wordpress.com/2009/05/28/eros-cupido-e-psique/
http://www.pensador.info/frase/NTgzNzY/

2 comentários:

Débora Aquino disse...

seria essa uma fábula moderna ou será que os tempos não mudam e há muitas raposas e cegonhas ainda neste mundo?! hehehe
Parabéns pelas postagens e obrigada por compartilhar fontes literárias tão preciosas como estas.

Matheus Ariete disse...

Show primo! Valeu mesmo por iluminar La Fontaine!