sexta-feira, 18 de junho de 2010

Confabulando o fabular, Vol.3

Conforme escrito no último Confabulando o Fabular, as fábulas de Fedro que havia encontrado eram idênticas as que são atribuídas a Esopo. De fato, Fedro além de fixar essas fábulas (passar da tradição oral para a forma escrita) foi responsável por lapidá-las estilisticamente.
Assim como Esopo, Caio Júlio Fedro foi um escravo alforriado, mas seus dados biográficos são bem mais acessíveis que os de Esopo, possuindo diversos registros. Consultando nosso oráculo moderno, o Google, encontrei bastante informação. Com bom senso, a rede se torna uma aliada imprescindível, e selecionando as fontes mais interessantes, que geralmente estão presentes em sites de universidades e professores, além de artigos publicados, a pesquisa ganha em qualidade.
No site do professor Márcio Luiz Moitinha Ribeiro (UERJ) há três dessas fábulas de Fedro. Escolhi obviamente a que narra a Raposa e as Uvas. Além da versão original em latim, há uma apreciação bastante completa das fábulas selecionadas pelo professor no site onde seu artigo foi publicado.

Versão em Latim:

De Vulpe Et Vua


Fame coacta uulpes alta in uinea
Uuam adpetebat summis saliens uiribus;quam tangere ut non potuit, discedens ait:
“nondum matura est; nolo acerbam sumere”.
Qui, facere quae non possunt, uerbis eleuant,
adscribere hoc debebunt exemplum sibi.

Tradução:

A Raposa e a Uva

Coagida (impelida) pela fome, a raposa cobiçava o cacho de uva
na alta parreira, pulando com todas as forças;
como não pôde tocá-la, disse, afastando-se:
“Ainda não está madura: não quero apanhá(-la) verde (azeda)”
(Os) que diminuem com palavras, (as coisas) que não podem fazer, deverão aplicar para si este exemplo.

Tradução da versão atribuída a Esopo*:

A Raposa e as Uvas

Um raposa estava com muita fome
e viu uma cacho de uvas numa latada[1].
Quis pegá-lo, mas não conseguiu. Ao se afastar, disse para si mesma:
-Estão verdes.
O Homem que culpa a circunstâncias fracassa e não vê que o incapaz é ele mesmo

*tradução de Antônio Carlos Viana
[1] Grade de ripas, varas ou canas, na qual se apoiam trepadeiras, parreiras etc.

Faroleando o fabular:

Apesar das sutis diferenças de estilo, a fábula permanece inalterada em sua essência, a qual aparece caracterizada numa das formas mais recorrentes nesse tipo de narrativa. É aquela essência que repousa na maioria das vezes sob os andrajos que cobrem "as fraquezas humanas e suas questões mais vis".

2 comentários:

http://andrey.escariao.com disse...

Meu nobre, levando para a realidade... Será isso tudo um ato do inconsciente? Digo, o fato de querer mas, por algum motivo, não é fácil alcance. Dessa forma, o camarada produz essa reação. Am?

Matheus Ariete disse...

Primo, a idéia das fábulas iluminadas me agrada muito mesmo. Queria que você fizesse alguma citação sobre as obras de La Fontaine e sua ligação com Esopo.